Ausência de mãe engorda! Filhos de mulheres que trabalham fora de casa têm maiores chances de desenvolver sobrepeso e até obesidade

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Luciana Harfenist

Nutricionista

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Quando se tem filhos pequenos, a decisão de trabalhar fora nem sempre é fácil. Ficar longe de casa implica menor tempo para acompanhá- los, o que inclui não verificar de perto o que eles estão comendo. Agora, um estudo mostra que a ausência desse cuidado pode gerar graves prejuízos à saúde. Na última semana, uma pesquisa do Instituto de Saúde da Criança, na Inglaterra, revelou que os filhos de mães que trabalham fora têm grandes chances de desenvolver sobrepeso e obesidade. Longe das mães, as crianças tendem a consumir alimentos como salgadinhos, bolachas recheadas e doces em excesso, além de passar horas em frente à televisão.

O estudo, que envolveu 7,5 mil mães e 13 mil crianças, mostrou também uma relação entre as mulheres de maior poder aquisitivo e o ganho de peso dos filhos. As mães com salários mais altos são mais exigidas no trabalho, ficando ainda mais tempo fora de casa. “Uma rotina de mais de dez horas de trabalho aumenta em até 15% o risco de obesidade nos filhos”, diz a pesquisadora Susan Jebb

Um dos motivos que explicam o resultado da pesquisa é a estratégia da compensação. “Para reparar sua falta em casa, muitas mães permitem que os filhos comam à vontade”, diz o endocrinologista Henrique Suplicy, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade. Outro problema comum entre as mulheres que trabalham fora é o pouco tempo dedicado à amamentação. “A interrupção precoce do aleitamento favorece o surgimento da obesidade”, diz o pediatra e nutrólogo Nathaniel Viunisk, da Associação Brasileira de Nutrologia. Sem o leite materno, a criança recebe outros alimentos, em geral mais propensos a levá-la a um ganho de peso excessivo.

Uma vez que a participação da mulher no mercado de trabalho é um fato irreversível, o desafio é compatibilizar essa situação com a qualidade do cardápio das crianças. Em geral, a solução passa por uma reformulação na rotina profissional. Mãe de três filhos (Omar, 12 anos, Malek, nove, e Louise, sete), a engenheira carioca Mônica Zein tinha dificuldade para conciliar trabalho e família. “Não controlava o que eles comiam. Quando meu filho mais velho começou a ganhar peso, sabia que não podia perder mais tempo”, diz ela. A engenheira optou por trabalhar em casa e investiu em uma vida mais saudável. “Procurei uma nutricionista para reorganizar nossa rotina alimentar. Conseguimos.” Ela teve o apoio do marido, Ziad, “ingrediente” fundamental para o sucesso da empreitada. “É um processo que requer o comprometimento de todos”, diz Luciana Harfenist, a nutricionista chamada para executar a tarefa.

Em São Paulo, a editora de filmes Patrícia Moraes também reorganizou a vida profissional para cuidar melhor do filho, Martim, sete anos: “Trabalhava 16 horas por dia. Ele só comia macarrão, mingau e doces, o que o levou a ganhar peso.” Patrícia trocou de emprego, trabalha menos e buscou auxílio de uma nutricionista. “Hoje ele come até legumes”, diz ela. Quando a mudança não é possível, a saída é criar outras estratégias. Aproveitar o café da manhã ou o jantar para oferecer frutas e verduras é uma delas. “Mas é importante que os pais comam junto com os filhos. Eles têm de dar o exemplo”, diz a nutricionista Daniela Jobst.

Quando a obesidade é contagiosa

Um estudo feito por pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard (EUA) mostrou que quando um indivíduo ganha peso, as chances de as pessoas de seu círculo de relacionamento engordarem são enormes. As probabilidades, maiores ou menores, ocorrem de acordo com a proximidade da relação. Ter um amigo gordinho aumenta o risco em até 57%. Entre irmãos do mesmo sexo, as chances são de 44% para os homens a 67% para mulheres. Entre marido e mulher, a possibilidade sobe para 37%. A explicação é a de que os amigos e parentes costumam ter hábitos de vida semelhantes. “Quando um amigo próximo ganha peso, a obesidade deixa de ser vista como algo ruim”, diz Nicholas Christakis, coordenador do estudo. Publicado na revista científica New England Journal of Medicine, ele envolveu 12 mil pessoas, avaliadas por 32 anos.

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