Dieta Planetária

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Luciana Harfenist

Nutricionista

1) Como você vê a dieta para salvar o planeta? Ela é balanceada? Com essas limitações, teremos deficiências nutricionais?

 O trabalho em questão realizado pelos pesquisadores (publicado na Lancet) ressalta a degradação do planeta devido à produção de alimentos, e ainda aponta o consumo de industrializados, açúcar, grãos refinados e carne como alimentos não saudáveis, responsáveis pelo surgimento de diversas doenças crônicas não transmissíveis.

O principal objetivo do estudo é mostrar a importância de uma alimentação saudável, que beneficie a saúde humana e o planeta. Outra problemática abordada no estudo é que os alimentos saudáveis precisam estar acessíveis a todos e bem distribuídos.

Cinco estratégias são apresentadas como possíveis soluções, onde os autores ressaltam que é necessária vontade política:

– Buscar o comprometimento nacional e internacional para dietas saudáveis;
– intensificar de forma sustentável a produção de alimentos, gerando uma produção de alta qualidade;
– governança forte e coordenada da terra e dos oceanos;
– pelo menos reduzir pela metade a perda e o desperdício de alimentos, de acordo com os ODS globais.

Dentro do contexto da proteção ambiental, os pesquisadores destacam importantes fatores que impactam o meio ambiente, graças a atual produção e consumo de alimentos:

– Emissão de gases que agravam o efeito estufa e o aquecimento global: CO2, metano e óxido nitroso;
– Desperdício de alimentos;
– Grande utilização de água (ressalto a altíssima quantidade utilizada para a criação e abatimento de animais);
– Desmatamento;
– Poluição;
– Diminuição da biodiversidade; extinção

Os pesquisadores também defendem a dieta dizendo que pode parecer inviável e extrema, mas que, no entanto, essa alimentação proposta pode incluir dietas veganas ou dietas onde há consumo de quantidades modestas de alimentos de origem animal, sendo estabelecida como tradição em várias regiões. Citam como exemplo a dieta mediterrânea, semelhante a dieta do Creta em meados do século XX, onde era baixa em carne vermelha (ingestão de frango e carne vermelha totalizavam em média 36g/dia), e alta em gorduras (em torno de 40% da dieta), principalmente em azeite. Continuam dizendo que em outras dietas tradicionais (Indonésia, México, Índia, China e África Ocidental) também incluem pouca carne vermelha, sendo mais consumida em ocasiões especiais.

Avaliando a proposta da dieta, ela é muito saudável justamente por ser rica em alimentos de origem vegetal, como as hortaliças e frutas, que são primordiais fornecedoras de vitaminas, minerais e compostos bioativos, responsáveis por promover o equilíbrio de todas as reações químicas em nosso organismo, indispensáveis para a qualidade de vida e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. Entretanto, não devemos padronizar as gramaturas de cada grupo alimentar para todos os indivíduos, visto que cada um de nós possui sua individualidade bioquímica, e a necessidade de ingestão alimentar não é igual para todos. A padronização pode levar à escassez ou excesso de nutrientes.

Vejo como um pensamento sustentável, preocupado não apenas com o planeta, como também com a saúde dos indivíduos. Concordo com a exposição da ideia, entretanto, é um desafio grande devido a necessidade de engajamento da população, dos produtores e dos políticos. Minha única crítica seria a padronização quantitativa dos grupos alimentares.

2) Ela se aplica a todo mundo? Como ficariam os atletas, por exemplo?

 
Do ponto de vista qualitativo, provavelmente sim. Se as pessoas se adaptariam ou não, é uma questão de cada um. Já quantitativamente, é necessária a individualização.

Os atletas, assim como qualquer indivíduo, não podem se beneficiar de uma dieta quantitativamente padronizada. O que determinará as quantidades, é o objetivo atual de acordo com o momento em que o atleta se encontra (pré, durante ou pós competição) e a modalidade praticada.

 

Como a dieta padroniza gramaturas de alimentos, consequentemente a ingestão calórica seria aproximada para todos os indivíduos, sem levar em consideração estilo de vida, atividade física, idade e sexo. E não é isso o que a ciência nos diz, devemos equilibrar o planejamento alimentar de acordo com as necessidades de cada um.

Cabe ressaltar que seriam necessárias políticas públicas, afim de prevenir carências nutricionais, como as de zinco e vitamina B12. Os demais micronutrientes podem ser contemplados na dieta, principalmente se combinados de forma correta na alimentação. Por exemplo: alta ingestão de folhosos e outros vegetais verdes escuros como fonte de ferro vegetal, que se combinados a alimentos com vitamina C (morango, limão, laranja), melhoram a absorção deste, prevenindo a anemia ferropriva.

De forma geral, a dieta planetária preconiza tudo o que a ciência vem nos mostrando ao longos dos anos: devemos comer comida de verdade!

Para constatar os fatos do que afirmei acima acerca de carências nutricionais, realizei um planejamento alimentar minunciosamente baseado na dieta da saúde planetária, respeitando todas as gramaturas de acordo com os grupos alimentares.

 

Mulher, 53 anos, altura: 1,63m, 60kg, com IMC: 22,6kg/m² (peso ideal – eutrofia)

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